Uma história de novos começos
Era uma vez uma ilha, isolada do resto do mundo, onde a expectativa de vida ultraava a marca dos cem anos. Este pequeno paraíso, cercado por águas cristalinas e vivificado por uma floresta exuberante, abrigava uma comunidade peculiar e harmoniosa. Lá, o tempo parecia seguir um ritmo diferente, guiado pelas mãos da natureza e pela sabedoria dos mais velhos.
João, um jovem aventureiro à deriva após o naufrágio do navio em que viajava rumo à Europa, teve seu destino drasticamente alterado ao ser levado pelas ondas até essa ilha. Exausto e sem esperança, ele foi encontrado por habitantes que, com um misto de curiosidade e compaixão, acolheram-no como um dos seus. Logo, João se viu diante do ancião da comunidade, um homem de aproximadamente 110 anos, cuja presença inspirava respeito e serenidade.
O sábio explicou a João os pilares que sustentavam aquela sociedade única. A comunidade, que não ultraava 1.550 habitantes, era composta predominantemente por famílias com pai, mãe e no máximo dois filhos. A condição de ter no máximo dois descendentes era rigorosamente observada, salvo situações especiais, como o nascimento de gêmeos. Esse controle populacional permitia um equilíbrio perfeito entre os recursos disponíveis e o bem-estar de todos.
Além disso, a comunidade seguia um estilo de vida naturalista. Nada de álcool, cigarros ou qualquer tipo de droga. Apenas aquilo que cultivavam com suas próprias mãos era consumido, e o contato com o mundo exterior era minimizado. A única janela para o que acontecia fora da ilha era um rádio, cujo uso era mais tolerado do que apreciado. Notícias sobre guerras, crises e avanços tecnológicos eram tratadas com indiferença ou mesmo desprezo. Eles haviam escolhido a felicidade simples e a autossuficiência como escudo contra as complexidades de um mundo agitado.
João foi orientado pelo ancião sobre como integrar-se àquele modo de vida. Ele deveria aprender a cultivar a terra, a respeitar o ciclo da natureza e a colaborar com a comunidade. Cada habitante tinha um papel fundamental, e o equilíbrio só era mantido graças à cooperação. Em troca, ele receberia segurança, saúde e uma vida marcada pela tranquilidade.
Aos poucos, João começou a adaptar-se. Ele sentiu o peso de abandonar os confortos e os hábitos do mundo moderno, mas descobriu, com o ar do tempo, uma nova forma de liberdade. A ausência de pressões externas, preocupações materiais e distrações tecnológicas revelou a beleza de uma vida em comunhão com a natureza e com os outros.
Os dias na ilha eram marcados por simplicidade e propósito. As manhãs começavam cedo, com o trabalho nos campos e a colheita de alimentos frescos. As tardes eram dedicadas a atividades comunitárias, como a construção de moradias, a preparação de festas e a troca de conhecimentos. Já à noite, ao redor de uma fogueira, histórias eram compartilhadas, unindo gerações e perpetuando a memória coletiva.
João aprendeu a respeitar a harmonia daquela comunidade. Ele compreendeu que a longevidade de seus habitantes não era apenas fruto de uma dieta saudável ou da ausência de vícios, mas também de uma mentalidade que priorizava a paz interior, o respeito mútuo e a conexão com a essência humana. Cada gesto, cada palavra e cada escolha refletiam o compromisso com um bem maior.
Nos anos que se seguiram, João tornou-se um membro ativo e respeitado da comunidade. Ele trouxe consigo algumas habilidades do mundo exterior, que adaptou ao contexto da ilha sem quebrar suas tradições. Em troca, ele recebeu lições de vida que jamais imaginara encontrar.
E assim, em um canto remoto do planeta, João encontrou não apenas um lar, mas também uma nova perspectiva sobre o que significa viver plenamente. A ilha dos cem anos continuou a ser um refúgio de simplicidade e sabedoria, um lugar onde o tempo parecia parar e a felicidade era medida pelo brilho nos olhos de seus habitantes. Lá longe da ganância do ter, longe das guerras, e principalmente do egoísmo, João se apaixonou por Elisa, sobrinha do Ancião. Tiveram um casal de filhos, gêmeos, e viveram para felizes por mais de cem anos.
Autor:
Jaeder Wiler