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terça-feira, 10 de junho de 2025

Um tiro doi menos que tropeçar

Hoje me vi perdida.

Havia uma rua em minha frente, eu poderia ir ou para a direita ou à esquerda. Porém, eu não sabia o que fazer. E não sabia qual direção tomar. Nunca soube, na verdade. Mas, desta vez, resolvi prestar atenção no caminho que escolheria.

Olhei atentamente, a rua à esquerda, a qual era muito bonita, cheia de árvores, brilho eterno, música, bastante barulho, carros, ruas bem feitas e cachorros felizes. Eu já havia tomado aquela direção algumas vezes, mesmo sendo muito bonita era muito perigosa, já havia sido assaltada. Sim, me machucou bastante, mas isso aconteceu apenas no final da rua porque o início foi muito bonito, feliz.

Aquela rua me chamava muita atenção, sempre me questionava que talvez na próxima vez eu não fosse assaltada e chegaria ao final dela sem dor. Que talvez, eu devesse insistir só mais um pouquinho nela e aí sim eu não iria ser assaltada, que talvez eu apenas tivesse errado o horário de andar por ela.

De novo.

Em contraste, a outra rua não era tão bonita, a rua à direita . Ela era meio escura, íngreme, os tijolos dela não estavam tão bem colocados, os prédios eram muito bem formados e suas estruturas eram bem firmes. Mas comparada a rua oposta à dela, era muito calma, eu ouvia apenas o barulho das folhas e pássaros cantando. Havia andado por ela apenas uma vez, e no meio do caminho eu tropecei, e me doeu. 

Eu fiz doer mais que o assalto.

Ali ninguém me feriu, apenas eu. Porém nesta rua, não fui assaltada e nunca houve nenhuma ocorrência de assalto, eu chegaria ao final sem me machucar. Chegaria salva. Porém nesta rua, eu não era feliz igual na outra rua, a rua da direita não trazia emoção igual a da esquerda, a dor do tropeço doía muito mais que a do assalto, um tiro doi menos que tropeçar.

Um tiro doi menos que tropeçar.

Repeti isso para mim mesma algumas vezes. A rua da esquerda tem caos, tem muitas informações sem estrutura, eu tenho que me forçar para entender a rua da minha esquerda, eu tenho que decorar o caminho certo para a rua da esquerda. E tem que valer a pena, a rua é simplesmente linda.

A rua da direita é calma até demais, na rua da direita sou eu que me machuco, não tem como culpar alguém a não ser eu mesma. Não, a rua da direita não tem sentido.

A rua da esquerda me deixa confusa, me sinto insegura, não quero ser assaltada mais uma vez, talvez eu só precise mudar meu jeito de andar. Ou talvez, só aprender a sentir menos dor quando o tiro disparar em mim. Posso mudar isso. Claro que posso.

Definitivamente sim, tropeçar no chão doi muito mais, as dores são incomparáveis, um tropeço me machuca muito mais que apenas um tiro, um simples tiro.

No final das contas, eu fui para a rua da esquerda porque não tem sentido ir para a da direita. Minha caminhada foi linda. A música estava alta, o sol estava lindo e meu coração vibrava.

Ali era o meu lugar.
Tinha que ser o meu lugar.

E por cinco minutos…Tudo fez sentido.

Eu senti o vento batendo no meu rosto, a felicidade transbordava meu peito. O sol atravessava as folhas das árvores. Um cachorro latiu feliz, como se soubesse que eu finalmente estava onde deveria. Os carros avam rápidos, como pensamentos intensos, mas pela primeira vez, nenhum deles me atropelava por dentro.

Pela primeira vez, meu peito estava leve. Eu me senti bonita. Livre. Inexplicavelmente certa de que aquele era o caminho, mesmo com os riscos. Porque por cinco minutos, eu não era dúvida — eu era certeza.

Eu quase acreditei que a rua não teria um fim triste dessa vez.

Ali era o meu lugar.  Definitivamente tinha que ser o meu lugar.

Foram os cinco melhores minutos da minha vida, a única coisa que realmente me doi, foi o fato de eu nunca ter chegado em casa depois desse dia.

Maria Alvez.

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